A manhã cinzenta de um certo sebastianismo

O dia amanheceu cinzento, cor de chuva, e com um nevoeiro que deixa feliz a quem consiga ver para lá de cem metros à frente do nariz. Sentem-se no rosto, as gotículas que constituem estas nuvens descidas à terra para nos envolver e nos predispor para a cama ou para a depressão.
Como a primeira opção não é hoje possível…
A televisão da pastelaria reproduz a noite de contagem de votos das eleições de ontem.
O rádio do carro continua a dissertar sobre o mesmo tema:
ü  A lista patrocinada por Isaltino Morais ganhou as eleições para a Câmara de Oeiras. O presidente eleito, Paulo Vistas, afirma que esta é a vitória da saudade e os apoiantes vão festejar a Câmara Municipal para a porta da prisão da Carregueira onde o ex-autarca e inspirador da lista está preso por corrupção.
ü  José Sócrates comenta os resultados em directo na RTP e aponta os caminhos para o país não só ao nível local mas também à escala nacional. Um pouco de memória e talvez se lhe aclarasse a noção do ridículo.
ü  Alberto João Jardim vê o PSD perder a maioria das câmaras municipais da ilha da Madeira e afirma que tal só se deve à política de austeridade que vem sendo implementada pelo governo da república. Ele continua a ser o que sempre foi: um modelo de virtudes.
ü  Luís Filipe Meneses, o homem que há alguns dissertou no Coliseu de Lisboa sobre os sulistas, elitistas e liberais, e que fez uma gestão ruinosa da Câmara de Gaia, reconhece que o seu resultado nas eleições para a Câmara Municipal do Porto foi uma “não vitória” que o incomoda pelo facto de não estar habituado a perder. E que tal começar por se habituar a dizer derrota?
ü  João Semedo, com uma camisa alinhada em cor azul com a outra metade da liderança do Bloco, a estridente Catarina Martins, acusa a comunicação social de ser a causa do resultado do seu partido que apesar de não ter conseguido ganhar qualquer câmara e de ter apenas 2,5% dos votos, venceu. Uau! E os jornalistas lá regressam ao seu estatuto que os aproxima dos árbitros no contexto das derrotas no futebol. Luis Filipe Vieira e Jorge Jesus não fariam melhor.
ü  Depois da vitória da CDU, Jerónimo de Sousa sugere ao país um caminho… convidando-nos a participar numa marcha que a CGTP está a agendar para breve.
ü  Passos Coelho reconhece a derrota, considera-a normal e promete não tirar de aqui quaisquer conclusões para o governo à escala nacional. Deixa-te ir que vais bem!
ü  O ubíquo Paulo Portas em pose irrevogável de oposição reconhece o grande resultado para o seu partido e cola-se à vitória no Porto do independente Rui Moreira, o pior resultado para o seu parceiro de coligação, lançando farpas indirectas para Meneses. Ele há casamentos…
ü  Seguro obteve uma vitória nacional não tão contundente como a de Costa em Lisboa e a distância entre o Largo do Rato e o Hotel Altis pareceu insuperável e de infinitos quilómetros.
A manhã segue de nevoeiro a exigir prudência e as luzes de médios devidamente acesas pois a estrada, escorregadia como manteiga, está completamente tapada.
Parece que o céu descarregou esta humidade para descolar os cartazes ainda espalhados pelo meu caminho, que nesta manhã e à luz dos resultados, carregam sorrisos e frases completamente patéticas.
Tudo parece assim confluir para a depressão e como é fácil entender o Bandarra, o sapateiro de Trancoso, na profecia do regresso de um desejado D. Sebastião algures numa manhã como esta.
Pobre terra esta que parece condenada a ser a caricatura sempre falida de uma espécie de país.
Acelero.
Vamos lá trabalhar que desistir não é de bravos e o trabalho ainda é a única forma de vencer.
O sebastianismo só conduz à inacção e essa é a melhor aliada destes tontos que desde ontem me poluem a televisão e o rádio.
Por mim… a luta continua.

Comentários

  1. Não podia estar mais de acordo com tudo o que escreves.....mas a Câmara de Oeiras para mim bate todas....não se aguenta aquele tipo de frases....Ele rouba, mas faz? Foi julgado e preso, mas isso não conta? Embora lá festejar com o ladrão à porta da prisão, coitadinho!
    Agora ele e o seu capaz vão dar “continuidade” ao seu trabalho......vão continuar a roubar????... É isso?.... mas está tudo louco?... como é que se pode votar em alguém assim?
    Os Oeirasenses são, considerados uns dos Conselhos que tem o nível de instrução mais elevado do país, mas de “moral e valores” só pode ser o pior. Só pode mesmo.
    E a Abstenção? Pois é... não se fala....foi muita, mas essa não interessa fazer qualquer tipo de análise
    P

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

O MUNDO MAIS BONITO E CONFORTÁVEL NUM TEMPO A CHEIRAR A FLORES

“Quando mal, nunca pior” ou a inexplicável rendição à mediocridade

TESTAMENTO DE UM ANO COMUM