Amanhecem com morteiros estes dias em que somos felizes

O dia começa sempre com 21 morteiros, estranho número ímpar mas que é salva especial, honra máxima digna de reis e presidentes na festa que nos convoca a todos para um momento de memórias e para o atestar de vida nesse prazer único de estarmos juntos nem que apenas e só por um tão breve par de dias.
E ou eu me engano nas contas durante o meu acordar estremunhado ou o homem dos foguetes nunca lança os 21.
Mas que importa…
Em breve, a banda filarmónica vai passar pelas ruas e, como por magia, à sua frente e aos primeiros acordes, abrem-se as janelas, a par dos sorrisos tão típicos destes dias que os nossos avós nos ensinaram a tornar diferentes e maiores.
E nós não resistimos mesmo a torná-los especiais no cumprimento de uma perfeita coerência que mais do que histórica, já tem uma intensa dimensão genética.
Como em mais nenhum outro dia do ano, pelo Rossio ou pela Carreira das Nogueiras ou os Pelâmes, faz-se demasiado curto o percurso entre a Praça e os Capuchos.
A culpa é da festa e fica provado que o verdadeiro centro da Vila é afinal cada um de nós.
Senhora da Piedade, Senhor dos Aflitos, São Luís e São Tiago, um inédito quarteto de devoções, muita fé, três igrejas num só largo como manda a tradição de Vila Viçosa, e muitas luzes acesas nos arcos coloridos que erguemos por sobre este perfeito momento de afectos em que andam à solta, indomáveis e incontroláveis, os beijos e os abraços.
Arraial?
Romaria?
Para mim, a melhor definição é encontro de amigos.
Brindamos, erguemos os copos apelando à sorte, que a vida é assim ao jeito de uma quermesse e o sonho é sempre doce como as farturas polvilhadas de muito açúcar e canela que nos aquecem as mãos e a alma nestas noites de Setembro em que já corre uma brisa fresca deste lado do Castelo que olha a São Romão.
Não importa quem toca ou canta no palco ou no coreto, o ritmo está em cada um e pulsa mais do que tudo pelo coração.
Estão felizes os corações sentindo-se no conforto da casa que é a sua e é feita pelos olhares tão familiares dos nossos, da nossa gente, esses olhares que carregam nome e história e que dispensam todas as palavras nesta hora de celebrar o amor.
E pela memória chegam sempre aqueles que em cada Setembro nos ensinaram a vir aqui partilhar a vida e que cumprindo o ciclo inevitável do tempo já passaram à eternidade do paraíso.
E na nossa terra, o “Paraíso” é verdadeiramente um lugar a “dois passos” dos Capuchos.
Pela saudade se unem a nós e se fazem presentes de uma forma intensa nesta festa brilhando por entre as estrelas e o fogo que no final da noite fará rebentar no céu infinitas cores de festa.
Artificio?
Não. Doce realidade.
Festas dos Capuchos.
O caminho para Vila Viçosa é hoje, mais do que nunca, irresistível… e muito mais curto. 

Comentários

  1. Não há satisfação maior do que aquela que sentimos quando proporcionamos momentos de alegria aos outros .
    Porquê o mês de Setembro magico
    RP

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