MANUEL JOÃO

Nenhum dos muitos e felizmente bons amigos que tenho se importará que eu diga que és o melhor de todos esses amigos.
Não aplico aqui nenhuma escala especial de avaliação, digo isto apenas porque sinto que somos afinal muito mais irmãos do que propriamente apenas amigos.
Um irmão extra oferecido pela vida e escolhido por mim por claro mérito teu. És feito da “massa” das pessoas de excelência, e eu por ti, ponho as mãos no fogo pois sei que jamais me queimarei.
Crescemos juntos e a nossa amizade terá sempre a nossa idade, alicerçada nessa partilha que hoje fazemos à mesa do Restauração como antes fazíamos nas salas do teu segundo andar, alinhando os bonecos de um improvisado Jardim Zoológico e uma cidade cheia de carrinhos miniatura da Matchbox com que depois brincávamos.
Brincávamos mas já com a ambição de ser homens quando fumávamos cigarros Kentucky às escondidas e atirávamos as “beatas” para o telhado.
À hora do lanche, a tua mãe chamava-nos sempre para uma torrada e um Sumol que íamos buscar ao café do teu pai, um homem que raríssimas vezes eu consegui ver de outra forma que não a trabalhar.
Herdaste dos teus pais a generosidade e a honestidade, para além de milhões de outros valores de excelência; e isso fui sentindo sempre, mesmo quando apenas as cartas escritas aproximavam Lisboa e Portalegre nos anos em que estávamos a estudar.
Guardo ainda todas essas cartas e às vezes abro uma e releio-a para activar a memória que me reconheces.
Estão lá todas as palavras da partilha que entrelaça definitivamente as vidas e constrói as melhores amizades do mundo, a partilha de dois amigos que apanharam o “vapor da liberdade” e ousaram sonhar juntos construindo vidas que romperam os destinos bem mais modestos que por família nos eram atribuídos.
As cartas falam de uma fé inabalável em nós e em Deus, e transpiram um afecto fantástico.
E às vezes nas cartas até havia direito a banda desenhada (lembras-te das aventuras de “O grande bolo”?). Nem morto direi aqui quais eram as personagens principais do enredo que metia unhas e espátulas.
Quem nos vir hoje terá dificuldade em acreditar que éramos ambos tímidos e que às vezes também tínhamos aqueles arrufos típicos de amigos. Os arrufos passavam sempre rapidamente e a timidez foi sendo vencida aos poucos e muito por mérito desta amizade.
E o que a gente se ria?
Quando imitaste a Filipa Vacondeus a fazer panquecas na versão Herman José; quando fizeste de Jesus com uma alva para uma criança dez anos mais nova do que tu e ficaste com 40 centímetros de perna ao leu junto às peúgas brancas; quando enfiaste o vestido de noiva da tua tia Jeca e casaste com a Juca que ia de rapaz; quando fizeste de Ti Maria do Monte na festa da Zinha Duarte e levavas uma enorme saia de nazarena…
Os dias sorriem despudoradamente, e cresce e consegue ser muito maior quem tem amigos como tu.
Manuel, muitos parabéns pelos 48 anos e sobretudo, muito obrigado por me teres composto e recheado os dias dessa felicidade e ternura que te saem da massa de melhor amigo de que definitivamente és feito.

Comentários

  1. Obrigado pelo post, por seres meu Amigo e seres aquele irmão que nunca tive. Um abraço

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