Alcobaça e uma manhã de primavera

Há góticas cúpulas, braços longos de pedra esticados pelos Homens na ânsia de chegar ao Céu, mas é aqui ao redor dos nossos passos que de Céu se sente o amor na eternidade de uma paixão: Pedro e Inês.
Estas pedras beijadas pelos nossos pés de monges silenciosos resgatados hoje pela abadia ao bulício do Século XXI, estão cravejadas de História e gritam-nos convictas, que vazios e imbecis serão sempre todos os tronos, outros que não aqueles que nos fazem reis por verdadeira bênção do coração...
E da fé cruzando os séculos, falaram por certo os dois sinos que repousam agora a um canto discreto da longa igreja.
Os sinos assim pousados são como os Homens que desistem de o ser, como os tronos e os dias sem amor: não ressoam, estão mortos.
Cá fora, no claustro e por entre as laranjeiras sem idade, há o soluço do correr da água de um rio e há flutuantes detalhes de primavera ao jeito de pedaços de algodão beijando-nos o respirar.
E há o Céu, que é definitivamente muito mais de quem o sonha, de quem lhe entrega assim solto, o olhar, do que de quem estica vaidoso e poderoso, os braços, construindo majestosos tectos de pedra na ambição de lhe tocar.
Um Homem, o sonho do Céu, a fé, os detalhes de um amor perfeito, de uma paixão...
Hoje, sou eu.
E haverá trono maior para eu me poder sentar?

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