Os Euros e as birras na asfixia da minha terra

A escola primária para onde eu entrei em 1972, a “Escola Masculina” que a liberdade entretanto transformou em “Escola Nº 1”, será em princípio encerrada no próximo ano, juntamente com a sua congénere número dois que nessa altura era a “Escola Feminina”.
Ambos os edifícios são no centro de Vila Viçosa e ao que parece têm todas as condições para poderem continuar a assegurar a formação do primeiro ciclo das crianças da terra, mas, diz a rádio local, há que cortar nas despesas com funcionários.
As crianças transitarão assim para o edifício da Escola do Segundo Ciclo, na periferia da Vila, com os alunos que actualmente frequentam esta escola, a serem transferidos para a Escola Secundária.
Não importa se há dois edifícios que vão perder a sua utilidade, sendo transportados automaticamente e por estatuto para o “panteão” de monos e espaços devolutos e abandonados, o “punhal” que vai matando o centro histórico, despovoado em favor do “novo-riquismo Socrático” e dos seus apalaçados espaços ao estilo de Ceausescu.
O riso solto das crianças no recreio desaparece deixando o eco da memória a fazer companhia aos “velhos” que vão sobrevivendo por entre as ruínas.
Não importa a comodidade dos pais e das crianças relativamente à logística do transporte de e para a escola.
Não importa se as crianças deixarão de ter o seu espaço próprio onde coabitam com os da sua idade para “galgarem” degraus e se irem “dissolver” por entre adolescentes e jovens.
Ninguém terá tido em conta que há milhares de desempregados no concelho e que há formas inteligentes de os pôr a trabalhar e lhes dar um salário digno, muito possivelmente com os custos associados a esta mudança e à adaptação dos espaços.
A não ser que sentem as crianças de seis anos com os pés suspensos e a abanar do alto das cadeiras onde até agora se sentam os de doze…
Nada disso importa no contexto actual “Passista” e “Troikiano” perante a “escravatura” cega que põe os orçamentos no sacro altar das decisões por entre uma mixórdia de birras e amuos entre “poderes” que reduzem os cidadãos a meros cromos trocados num jogo que tem de tudo, e tem sobretudo muita falta de respeito.
Falo assim por inspiração da razão e também da emoção de quem verá morrer, sem qualquer justificação lógica, um dos espaços onde passei os anos mais felizes da minha existência.
Bem sei que restará a memória da oliveira que foi o meu primeiro avião no recreio onde imaginávamos tudo e até o universo por debaixo dos nossos pés, ficará o cheiro da terra húmida enquanto jogávamos ao berlinde, o som do rodopiar do pião no pátio de laje…
Mas não é suficiente.
E tudo em troca de algo que me parece ultrapassável com jeito e com boa vontade.
Virão agora os anónimos, e os com nome, dizer que não sei do que falo, que eles é que sabem o que contém a “massa” e que nem sequer habito já em Vila Viçosa, numa oferta feita à minha pessoa daquele espartilho de inspiração salazarista de maior ou menor legitimidade de opinião, no contexto do exercício de uma estranha democracia.
Pois… já estou habituado. Mas não me calo.
E vejam lá se ainda vão a tempo de travar isto.

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