Os dias, as dores e a fé
Tenho
na mão a caneca com o café que todas as manhãs me perfuma a cozinha e que serve
de complemento ao duche tépido na ajuda ao meu despertar.
Estou
à janela e aprecio o sol a brilhar sobre a manhã, que assim e sem qualquer
laivo de timidez, é prenúncio de um dia assumidamente de Maio, este mês que fez
desabrochar milhões de pequeníssimas flores coloridas nos campos que estão
agora entre mim e o azul do Atlântico.
O
telefone soará em breve com doces palavras de amor… e há dias que nascem como
este, com a aparência de perfeitos.
Mas
estou nervoso, vejo as horas que sinto aproximarem-se vertiginosamente das oito;
e sei que por aí, as palavras, o som do riso… e a vida toda de uma amiga,
estarão adormecidos e à mercê das mãos certeiras e do bisturi que a trarão de
volta aos dias felizes.
As
dores que os dias guardam em si são as nossas e são as dos amigos, que é como
se também fossem nossas.
É
dia 13 de Maio, recordo-me dos peregrinos de Fátima com quem me cruzei na
estrada na manhã do último domingo, em particular daquele homem sentado na
berma e amparado por um outro, que respondeu com um sorriso e um acenar feliz,
ao levantar da mão que lhe dirigi em jeito de um breve olá com alguma dose de
alento.
Aqui,
olhando o mar e com o perfume do meu generoso café matinal, sou eu hoje que
repouso na berma de um dia que anseio termine com as melhores notícias.
Rezo
uma Ave-Maria…
É
benefício da fé esta arte de saber colher a esperança por entre as difíceis dores
trazidas pelo tempo.
Desço,
entro no carro e percorro os poucos quilómetros até ao trabalho a ouvir “A Canção
da Terra”, de Gustav Mahler.
Por
sobre a música coloco Ave-Marias, leio as palavras de amor que entretanto
chegaram e bebo da esperança que me faz sorrir.
Ao
fim da manhã chegaram as notícias: estão vivas e de saúde as palavras e as
gargalhadas…
Há
dias que nascem com a aparência de perfeitos e que acabam por sê-lo.
Acreditar dá sempre uma ajuda.
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