Deusas e ninfas da diurese

Substituindo as carteiras da Channel ou Dolce Gabbana, as unhas de gel, o botox, a VIP, a Caras e os brindes destinados à praia e à feijoada das tias, os livros da Guiduxa Rebelo Pinto, as sandálias compensadas ao melhor estilo Drag Queen e Finalmente Club, o cartão de crédito ou as inevitáveis enxaquecas; por estes dias, a melhor amiga das mulheres é uma garrafa de água de um litro e meio, cheia com a própria água no seu estado mais puro recolhido directamente da natureza, ou então cheia com algum líquido com uma coloração que pode variar muito, mas que na grande maioria das vezes se assemelha a uma amostra de urina; detalhe que o aproxima inevitavelmente da pescada pois sendo diurético, pode dizer-se que antes de o ser já o é, pelo menos na aparência.
E a constatação desta intima relação entre as mulheres e as garrafas de água de litro e meio beneficia de significado estatístico com um bom valor de p dada a dimensão da amostra, leia-se o número de colegas, amigas, conhecidas, vizinhas, transeuntes… com quem me cruzei nos últimos dias e que transportavam semelhante objecto, muitas vezes camuflado naquelas malas que transportam todo o arsenal de beleza e que têm dimensões parecidas com os sacos reciclados do Pingo Doce ou do Continente.
Olhem por favor à vossa volta e vejam se não é verdade.
Um litro e meio de diurético ingerido durante um dia e as esperanças de fazer boa figura na praia a crescerem à medida que aumentam as visitas à casa de banho para descarregar o próprio líquido e tudo o que ele arrasta na desejada concretização de um autêntico milagre como há muito não se vê por terras lusitanas.
O líquido e a prece a todos os santinhos:
Isabel, Santa Rainha
Espanhola de Aragão
De gorda faz-me magrinha
Como rosas fizeste do pão
A esperança também reflectida na compra de roupa com dimensões três números abaixo do indicado, e é ver depois o sofrimento das linhas nas costuras e nas bainhas onde são esticadas quase até à morte.
Pobres linhas que até a mim me dói só de olhar para elas…
E como tudo o que é moda, há aquelas que não conseguem aguentar a “pedalada” por múltiplas razões e acabam por sofrer com isso. Já esta semana me cruzei com uma colega que levava na mão duas garrafas pequenas cheias de água.
Sentiu-se na obrigação de se justificar:
- Eu também tenho de beber um litro e meio de água por dia mas como detesto água, ingeri-la assim em pequenas quantidades dá-me mais alento.
Pois… os objectivos intercalares e intermédios acabam sempre por facilitar a concretização dos objectivos maiores.
O certo é que por entre esta obsessão feminina eu estou na expectativa em relação às minhas idas à praia em algum dos dias de férias que já não tardam.
E das duas uma, ou vou andar a tropeçar em sereias pelo areal ao jeito de mergulho no casting para Miss Portugal, ou então não vou conseguir comprar nem uma Bola de Berlim ao vendedor poliglota que apregoa andando por entre os toldos e as barracas:
- Bolinhas quentinhas, “pelotas dulces”, “donuz oooo’ meid”
Tomadas que estão todas pelas amigas dos líquidos drenantes que por constatarem que os bikinis lhes assentam como sempre, estão em cura de depressão na ausência de algum medicamento para o efeito.
Não é que eu não seja um homem de fé, mas parece-me que a segunda hipótese será bem mais provável de acontecer, pelo que vou eu comendo já umas “Bolinhas de Berlim” por entre o olhar reprovador das minhas amigas “Deusas e ninfas da diurese” pois…
Candeia que vai à frente…

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