Paixões, cumplicidades e canteiros de flores

Nós os loucos, os poetas, os amantes da liberdade, os que não tememos os abraços, e os irracionais que idolatramos a nossa verdade e fazemos dela o centro da vida, a própria razão; tarde ou cedo nos encontramos algures numa esquina do tempo para partilhar sentimentos, muito mais do que palavras, para falarmos daquilo que nos move: a paixão.
Às vezes à volta de um chá no cimo de uma velha escada de madeira que parece ter bebido todo o eco da poesia de Pessoa; outras vezes por entre o sol a pino que beija a charneca e oferece perfis mágicos e majestade às árvores do caminho…
E ainda e também por sob o luar…
Afinal, nós os loucos, sabemos falar com a lua, e sabemos que por mais longe que se encontrem os donos dos olhares que amamos, todos estamos sempre a olhar para ela por entre o escuro da noite; e a lua é como a vida, denominador comum de olhares e vontades dos eternos amantes.
E a lua é nossa irmã quando por entre o medo e a saudade, nos abraça e nos toma pela mão, entregando-nos livres ao sol que tinge as árvores de magia e que faz brilhar intensas as rosas e as dálias nos canteiros por onde, entre a primavera e o verão, “espreguiçam” o seu viço.
Ontem ao chegar a casa ao fim do serão, subiu comigo uma gravata linda num padrão de xadrez de entre verde e azul, que irei estrear em alguma futura ocasião especial.
E por mais voltas que o mundo dê, e mais ou menos nódoas que lhe manchem o padrão, aquele pedaço de tecido será sempre o sinal de um cúmplice entrecruzar de histórias e cumplicidades, de uma partilha perfeita de afectos carregada do verde de uma intensa e eterna esperança; e do azul, que pelas nossas paixões a vida sempre acaba por nos dar o céu.
Meninas, criaturas doces e perfeitas, eu juro que adormeci com a certeza de que os vossos dias desembocarão num canteiro de flores das mais viçosas do universo, nos tons todos e perfeitos que trazem as flores quando nascem de uma paixão assim tão grande.
Só aí pode desembocar a vida de quem manda beijos pela lua.
Digo-vos eu com toda a legitimidade de quem depois de arrumar a gravata no cabide do armário, foi até à janela e mandou pela lua um beijo de amor e saudade a quem estando longe vive cada vez mais dentro de mim.

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