A voar sobre Paris


O avião vai em silêncio.

Abanou um pouco ali atrás e ouviu-se o choro de um bebé que a mãe sossegou a beijos.

Sigo do lado direito e à janela, entretido a ver como mudam os tons do horizonte que se vão rendendo à noite: amarelo, laranja, vermelho, castanho...

E daqui a muito pouco inevitavelmente negro.

Do meu lado esquerdo tenho um senhor que faz palavras cruzadas em Alemão mas que já folheou um guia de Lisboa. Trocámos sorrisos quando os vizinhos da frente resolveram esmagar-nos para se recostarem e dormirem melhor.

Voo a 824 km/hora e a uma altitude de 10.668 metros.

Lá em baixo... Paris.

E acabei de te escrever um poema.

A sucessão de dias em que não te vejo vai desenhando em mim uma saudade de onde nascem sempre palavras de amor.

São palavras que te chamam e te trazem até aqui, porque escrever é fazer-te mais  presente.

São palavras que voam comigo por sobre todas as cidades do universo, para te trazerem e calarem a solidão.

O horizonte já está negro e apenas me vejo ao espelho quando espreito à janela.

Sou um homem feliz.

Esta semana houve alguém que me perguntou se um amor como o nosso pode existir.

Existe, claro.

Às vezes não damos por ele, entretidos que estamos com a paz que os dias nos oferecem, mas vemo-lo assim quando uma janela nos mostra que sorrimos.
E as dificuldades e as dores, gigantes como a Torre Eiffel, são afinal detalhes perdidos num pequeno lago de luz que se encontra dez quilómetros abaixo dos nossos pés.

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