Sim, para me encontrar.


Há um fio estreito de luz a rasgar a escuridão do quarto, uma espécie de linha traçada a diagonal sobre um tecto amplo e sem candeeiros; o sol terá nascido ainda há pouco.
Por entre a ténue claridade que me oferece a manhã consigo vislumbrar umas paredes pintadas de um tom claro, uma porta aberta para um compartimento contíguo a este onde me encontro, e um cortinado em tons de castanho, que por não estar devidamente unido no centro da janela, é o responsável por esta traição à escuridão que me terá embalado no sono durante toda a noite.
Um instante... e desconheço este quarto em que me desperto e onde nenhum ruído vem em meu auxílio oferecendo-me generosas coordenadas.
Coloco-me de barriga para cima, afago a barba, solto um bocejo, espreguiço-me ligeiramente... e é o teu rosto a primeira imagem que me ocorre na consciência de estar acordado.
Sorrio.
Ah, é verdade...
Solta-se mais um bocejo.
Sou eu. Troquei hoje momentaneamente o Tejo pelo Douro e estou a despertar-me num quarto de hotel no Porto.
Espreguiço-me mais um pouco.
Salto da cama, abro a cortina e alargo a linha de luz até à extensão do quarto, reconheço que a porta entreaberta dá para a casa de banho e corro para lá a pedir a agradável sensação da água quente de um duche.
Sorrio novamente.
Sim, sou eu; estou no Porto mas antes de me orientar no tempo e no espaço precisei de pensar em ti.
Eu navego pelos dias e há tanto de bússola nesta forma intensa de te querer.
Bússola?
Sim, para me encontrar.

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