Segredos

Bebo da memória
O alento que nasce das palavras
As poucas que foram ditas
E essas
Tantas
Que numa breve e rara tarde de primavera
Intuí no brilho do teu olhar entregue ao meu

No silêncio só os olhares cantam

E a memória
Filha do tempo e fiel irmã do silêncio
É o perfeito antídoto para tratar a dor que brota da saudade

Somos mártires da razão
Enclausurados monges despojados de si
Da sua verdade
Sombras vagas na escuridão dos claustros vazios de uma tão triste noite

Somos eremitas errando pelo silêncio
Aparentes cabides
Esqueletos de negros hábitos

Mas
Somos afinal secretos donos de duas almas que se amam

E um dia
Quando o galo cantar e for manhã
Quando o sol tingir de sangue este céu tão negro que agora nos cobre
Romperemos o silêncio
E seguiremos juntos
Matando segredos
Rompendo madrugadas

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