Derrota? Uma vitória por goleada.


Há dias em que o mundo parece ter sido convocado por alguma entidade divina para nos massacrar arduamente e testar o nosso espírito de resistência…
Hoje foi assim.
O despertador tocou ainda o sol não tinha nascido, o arrancador da lâmpada fluorescente da cozinha não cumpriu a sua função e o pequeno-almoço foi tomado às apalpadelas, o café da vizinhança não abriu hoje por motivos de ordem pessoal e não houve hipótese de tomar uma bica, o trânsito para Lisboa estava caótico e a esperança de encontrar fluidez ao virar de cada esquina foi sempre uma ilusão, as “louras” motivaram dezenas de apitadelas por se esquecerem que há piscas no carro, as pessoas estavam antipáticas, os guarda-chuvas pingavam-nos os pés nos elevadores, a fila para a bica estava como a do trânsito…
À medida que as situações se sucedem, nós vamos sentindo interiormente uma fúria a trepar por nós que nos vai tomando conta da voz só entregue agora a monossílabos lançados como pedras, os olhares transformam-se em lança mísseis visuais, os gestos fazem-se bruscos e a violência com que por exemplo se bate com a agenda na mesa traduz uma vontade de dar um par de bofetadas em alguém.
Mas então sentamo-nos, começamos finalmente a tomar a bica, respiramos e pensamos:
- Joaquim Francisco, por favor. Estar neste estado e sentir-se derrotado pelo trânsito e pelo infortúnio do arrancador da lâmpada da cozinha é quase tão ridículo como ser campeão e deixar-se perder em casa com o modesto Moreirense.
E a fúria começa a apagar-se chegando ao ponto em que até já conseguimos sair um pouco de nós e vermo-nos por ali sentados a sorrir ligeiramente.
Vem então a reacção definitiva ao estilo de pontapés de tiro ao golo, e tudo acaba restituído à sua condição de segunda liga… e avançamos definitivamente para a vitória.
Ali ao lado há um jardim muito bem cuidado, e que bem sabe estar do lado de cá a admirar as flores com infinitos tons; a senhora que recolhe a chávena sorri como resposta ao meu sorriso; chegou uma mensagem de amor, e até o menino na mesa em frente que conta as aventuras que viveu na consulta de oftalmologia ainda há pouco, consegue ter alguma graça.
Quando voltamos ao trânsito já demos a volta e já estamos a ganhar ao “Moreirense”, põe-se uma música no carro e já se assobia.
O mundo contra nós?
Mas o que é o mundo inteiro quando comparado connosco?
Não há hipótese. Vitória por goleada. 
Muito mais seria preciso para nos derrotar.

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