Dublin por uma montra
Estou só numa
mesa próxima da montra
Bebo um chá
de jasmim
Quente
Muito quente
E assim…
Com o i-phone
desligado por falta de bateria
Sem nada para
ler
O que me
resta?
Olhar a gente
Que mais
poderia ser?
Passa um
homem de bigode
Franzino mas
espigadote
Que para
beijar a loura que vai à sua frente
Só se fosse de
escadote
E de repente…
Passam três
senhoras carregadas de ouro
Que pelo
tamanho comprido da saia
E pelo
dossier tão antigo que levam consigo
Eu diria
Vêm da igreja
e do ensaio do coro
Vejo um gordo
que se abana a cada passo
Dois homens
envolvidos num abraço
Uma rapariga
de cabelo lilás
Que pelos
sacos que traz
Esgotou a
Zara
Uma velhota
de cachecol
Que para sair
a esta hora
Por certo o
fez por pão mole
Quase é
atropelada
Por um rapaz
que corre nos passeios e na estrada
E que… suado
Com o cansaço
que leva
Pode ir para
qualquer lado
Mas não para
muito longe
Do mesmo lado
das do coro
Passa então
um com ar de monge
Mesmo à
frente de um casal que pára para se beijar
Vejo um executivo
com phones nos ouvidos
Uns modernos…
todos divertidos
E na esquina
à minha frente
Há um grupo
que se prepara para cantar
Resolvo então
dizer à gente um “até já”
E regresso ao
chá
Já está morno
Mas ainda
peço um scone que entretanto vi sair do forno
Eu sei que
estou a abusar
Mas começo a
comer
É melhor
Não vá ainda
alguém dizer que o barbudo não pára de olhar
Ali na montra
E ainda por cima
a comer scones
Ele que até
está como uma lontra…
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