O doce sabor das palavras que se soltam da poesia

Os pinheiros competem com os campanários no desenhar da linha do horizonte a que generosamente entregamos o olhar, quando sentimos as palavras pelo eco que transpira de todas as pedras do que resta de templos, vaidades, casas ou simplesmente do serpenteado caminho que rasga as colinas.
E as palavras aqui por entre o sol de verão são pedaços de lendas, traições, ambição, guerra, paz… parágrafos de uma História que só é antiga pelo tempo que passou, porque actual nos pecados e nas virtudes que parecem “abraçados” ao ADN dos Homens, cruzando consigo todas as Idades.
Por debaixo dos meus passos, sinto-o, há segredos e passos de milénios, e antes de mim quantos Homens se terão sentado aqui nesta pedra grande e polida situada na berma da vereda que beneficia da sombra agora ao fim da tarde?
De quantos sentimentos foi ela informal pedestal, e de quantos Homens tomou cumplicidades por via do seu canto, de um assobio, de um suspiro, do pranto ou da expressão de qualquer vontade?
Tenho na mão um livro, cumprindo um velho hábito de quando passeio só por uma cidade. Não interessa qual o livro, talvez nunca chegue a abri-lo, mas faz-me companhia por aqui enquanto ao longe sinto o ruído contínuo das lambretas que aceleram na estrada de granito, e perto de mim passa gente vinda de todas as latitudes e longitudes do planeta.
Eu sou apenas mais um, um enamorado que vem dos sonhos e vai de mão dada contigo até ao fim da estrada dos dias.
Eterno como os pecados e as virtudes, o amor faz-me sorrir ao ritmo daquilo que me assalta o pensamento.
Trouxe comigo um livro apenas porque não te tenho aqui, mas dele nem sequer vou ler uma palavra porque não consigo parar de pensar em ti, e esta pedra que falará de tantos, um dia falará de mim… de nós.
Levanto-me para continuar o meu percurso e talvez por ter saído do trabalho e estar com um ar de muito pouco turista, sou confundido com um qualquer “Romano” e interpelado por dois homens que me pedem informações. Sorrio enquanto explico que não sou sequer Italiano.
O mais velho, que fico a saber ser pai do rapaz que o acompanha, pergunta-me de onde sou e sorri quando descobre que sou Português. São Israelitas, de Telaviv, e estão por aqui de férias.
E o homem sorriu porque gosta de Portugal por ser uma terra de destemidos marinheiros, que inventámos a saudade pelo meio de uma língua “doce”, e repete-o em hebraico depois do inglês “sweet”, “hamod” segundo o som que fixei.
Agradeço-lhes o elogio e desejo-lhes boas férias, seguindo então definitivamente o meu caminho e sendo inevitavelmente um Português em Roma: alma de marinheiro, saudade…
E doce?
As palavras, tantas, em Português, que se soltam da poesia de te amar assim.

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