Pai Natal em Setembro


Quando uma criança de seis anos nos olha com um ar entre o surpreendido, o intrigado e o feliz, franze o sobrolho e espontaneamente nos atira:
- Tu és o Pai Natal!
É impossível não sentir que já atravessámos a estrada do tempo e estamos definitivamente do outro lado da magia.
Ele sente a necessidade de justificar-se perante a admiração manifestada pelos pais:
- Tens as barbas brancas.
Mas eu resolvo entrar no jogo:
- Pois sou o Pai Natal. Só que hoje resolvi vir vestido de outra forma e não vim de vermelho.
Foi a minha vez de surpreender porque definitivamente ele não deve estar habituado a que alguém com as barbas já tão brancas, a assim com algum jeito de ter juízo de adulto, se disponha a entrar na sua brincadeira, levando-o a sério.
E continuo:
- Se quiseres diz-me quais os presentes de Natal e assim já não tens de escrever a célebre carta.
Os pais assustam-se mas o pedido vem logo de seguida:
- Quero os Stikeez.
Não me surpreende, o meu sobrinho Luís anda louco por estes bonecos que oferecem no Lidl.
Surpreendo-o eu:
- E queres com estojo ou sem estojo.
E ele quer sem estojo porque já tem um.
- Combinado.
Atiro-lhe eu antes de lhe apertar a mão e de ele me recomendar que no Natal passe cedo pela sua casa.
Em relação ao presente fico descansado pois os pais estavam a assistir à conversa e por certo tomarão conta do assunto.
Mas depois de uma conversa destas, é inevitável chegar ao carro e usar o retrovisor para confirmar se a criança tem razão.
E tem, claro.
O importante é que, independentemente do lado do caminho da magia onde o tempo nos coloca, deveremos assegurar a ausência de bloqueio a essa tão doce festa da mais saudável ilusão.
Que flua a magia.
Assim até nem nos sentimos a envelhecer; depois de dispensado o retrovisor, como é óbvio.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

O MUNDO MAIS BONITO E CONFORTÁVEL NUM TEMPO A CHEIRAR A FLORES

“Quando mal, nunca pior” ou a inexplicável rendição à mediocridade

TESTAMENTO DE UM ANO COMUM