Eu vou definitivamente para ti na mais verdadeira consciência dos meus próprios passos


Passei pelo Harrods e comprei-te umas meias quentes e coloridas, um pouco antes de percorrer a pé algumas ruas de Londres e sentir na cara a aragem agreste de um dia que “semeou” neve em Hyde Park.
Sentado numa mesa junto à montra de um velho pub onde as pessoas se anunciam pelo tilintar de um espanta-espíritos estrategicamente colocado atrás da porta, vejo uma das abas do parque e entretenho-me a observar a azáfama da gente, enquanto me aqueço com o café servido numa caneca de tamanho gigante.
No mais completo anonimato e no silêncio que nos oferece o estarmos sós, gozamos desse inquestionável privilégio de sermos e estarmos com quem queremos, à boleia do pensamento.
Eu penso em ti.
E continuo a pensar em ti por entre aromas de café, algures por sobre a Biscaia e quando nem só uma luz vislumbro no breu que me oferece o lugar à janela do avião.
Depois adormeço… e quando acordo já vejo infinitos pontos de luz em tom dourado, e não tardo a sentir que descemos para Lisboa.
Reconheço a margem sul, o Cristo-rei… e a lua cheia temperou de prata a noite do Tejo que é hoje e como nunca, um abraço de água que me une a Lisboa.
E Lisboa és tu, muito mais do que qualquer detalhe em pedra que sobressaia do casario…
E o ar de Lisboa que respiro quando aterro é o mesmo ar que tu respiras… e por isso chamo a Lisboa a minha casa.
Depois sigo no carro.
Continuo e continuarei sempre a pensar em ti; e às vezes sinto que cada segundo, cada partícula de tempo é menos um quanto na distância que nos separa.
“Só vou por onde me levam meus próprios passos…”
O “Cântico negro”.
O avião onde hoje viajei chamava-se José Régio e na bagagem trouxe umas meias coloridas que te oferecerei num destes dias por entre beijos de amor.
Eu vou definitivamente para ti na mais verdadeira consciência dos meus próprios passos.

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