Há manhãs de onde colhemos as palavras e o perfume para uma carta de amor


Meu querido amor,
Sinto aromas infinitos de indecifráveis flores por entre este instante em que penso em ti, e em que busco em vão palavras, por certo entre as mais doces, para te fazer o retrato escrito do homem mais feliz do universo, aquele que só tu soubeste criar em mim.
Serão rosas?
Muitas por certo, rubras de paixão; mas há tulipas, cravos, margaridas, alecrim, rosmaninho… e narcisos amarelos que nos lembram as tardes tristes da solidão.
As tardes que partiram de mim na intimidade desse primeiro abraço; eu, um náufrago sem “Sexta-feira” descoberto pelo navio rei de todos os mares, a nau de todos os meus sonhos e mestra de todos os destinos.
Depois…
O primeiro beijo com a cumplicidade lilás dos jacarandás na primavera, as mãos e as palavras trocadas no banco solitário de um jardim de Lisboa, o Tejo, os poemas, os livros, as cartas, os tesouros para o cofre, as colecções, os jantares por sobre os telhados da nossa cidade, as gargalhadas, as palavras, as Bolas de Berlim, os Bolos Fintos, mais beijos; tantos beijos e tantos abraços…
Tantos e tão poucos comparados com os que eu te queria dar; e a vida toda a soltar-se de tudo aquilo que de mais simples os dias carregam em si.
Os dias… e também as noites, perfeitas porque ao serão chega sempre uma mensagem com mil beijos e a magia de me chamares de “meu amor”.
Sim, ganhamos a mais doce das identidades quando perdemos o nome para passarmos a ser o “meu amor” dessa mesma pessoa a quem também nós trocámos o nome pelo sentimento.
Meu amor…
Sei que um dia a casa da D. João V será nossa, tomada pelos beijos que iremos dar nos dias todos em que o Tejo nos sorrirá azul; mas um pouco menos azul que o teu olhar.
Talvez então os nossos rostos estejam muito mais grisalhos do que hoje; mas que importa isso, se todos os anos que entretanto passarem, os vivermos juntos, assim, apaixonados e a namorar.
Por entre este intenso cheiro a flores, dou-te mil beijos, meu amor querido.
Teu,
Francisco

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