O que é a saudade de um beijo quando comparada com o mar de girassóis que tu semeias em todos os silêncios de uma noite escura?


A lua sulca veredas no breu da noite, e é hoje um imenso e prateado gomo de laranja entretida a brincar com as nuvens no céu por cima do meu caminho.
O rádio do carro emite palavras envoltas no toque de fado de uma lusa guitarra, mas esta noite pede-me silêncio para que dele possam emergir as minhas próprias palavras, as palavras todas que tu me ofereces.
Desligo o rádio.
Quase ao mesmo tempo a lua vence a cortina de nuvens, e assim nesta posição, parece sorrir-me sem o mínimo detalhe de pudor.
E o silêncio já é por esta altura, o campo imenso onde palavra a palavra, eu vejo brilhar girassóis, e onde numa clareira aberta à cumplicidade de uma fonte, eu te abraço à sombra de um choupo enquanto teço versos de amor.
A lua esconde-se novamente atrás do biombo que as nuvens lhe oferecem, talvez por não querer espreitar o momento em que eu não disfarço a saudade de um beijo.
Mas depois aparece de novo e vejo que continua a sorrir.
Eu também sorrio.
Afinal, o que é a saudade de um beijo quando comparada com o mar de girassóis que tu semeias em todos os silêncios de uma noite escura?
Em breve chegarei a casa e ainda e sempre a brincar com a lua.
Ela a sulcar veredas e eu a recitar versos de amor numa noite escura em que por não estares aqui, a saudade insiste sempre em espreitar.

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