CROÁCIA / MONTENEGRO / BÓSNIA Dia 3 Dubrovnik / Split "O céu"



As tardes de Dubrovnik atraem o sol ao azul intenso do Adriático, e nós que nos entregamos ao mar em busca de um fresquissimo abraço, brincamos com o astro-rei algures na linha tingida a ouro e laranja que a esta hora indica o poente.

Um sol que estando mais longe se faz mais próximo de nós e cabe como nunca nas nossas mãos.

A distância é afinal tão irrelevante para aquilo que brilha e nos atrai.

Às vezes por entre umas braçadas e a conversa contemplamos a costa a partir do mar e oferecemos ao olhar o recorte de um horizonte rasgado de ciprestes. Ao longo da vida cada Croata deve plantar pelo menos um cento destas árvores que apontam deliberadamente para o céu até ao dia em que são cortadas e oferecem a madeira para navegar.

Entendemos esse destino marinheiro quando subimos até Split, a cidade cujo nome homenageia as giestas que a vestem de amarelo em todos os meses de Maio, e quando sentimos o mar que nos acompanha ininterruptamente à esquerda.

Na rota há nove quilómetros de costa Bósnia e nós passamos a fronteira, convertemos Kunas em Marcos Bósnios, mudamos de bandeira... e só o mar e os ciprestes continuam iguais.

Tudo tão igual à pausa dos dias que parecem recuos ou cortes com o céu que sonhamos, mas esses mesmos dias em que o mar nunca nos abandona no querer e no sonho, e está sempre ali a convidar-nos a navegar.

Na Bósnia, o hotel onde paramos tem à porta oliveiras seguras por estacas; tão vulnerável se sente a paz...

Na antiga Jugoslávia não existia a palavra "anjo" e o "céu" era povoado por uma estrela de cinco pontas em tons de vermelho. O tempo fez esquecer a estrela e as crianças hoje já desenham os anjos que imaginam no "céu".

O céu dos Homens tão vulnerável ao tempo quanto a paz.


E depois finalmente Split com um calor tórrido a convidar para um mergulho a que não fugimos.

O sol ainda alto não permite que o agarremos. Mas sentimo-lo nosso entre o azul e o azul, o do mar onde navegamos, e o do céu que sonhamos.

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