Eu, a nossa casa.


Enfeito o meu caminho com uma música das minhas muitas estradas, abraço-me com força ao pensamento e vazo da tarde o impossível, sentando-te ao meu lado no carro que cruza a charneca por entre o calor de Julho.
Agora somos dois e uma velha canção... e de repente o dia vestiu-se de liberdade.
Eu sou cúmplice dos pássaros que correm entre os sobreiros despidos e a giesta que repousa depois da festa do ouro da sua primavera, eu sou do mesmo tom rosado e rubro maduro das ameixas que debruam o muro baixo e cravejado de musgo de uma velha quinta, eu sou como a casa simples e branca com rodapé num tom azul alinhado com o céu...
Eu sou essa casa construída pelo tempo, com os tijolos e as telhas da minha vontade, e onde sentado à soleira passei meia vida à espera que chegasses e outra meia a sonhar contigo; a casa que construí para ti e onde vivemos agora.
Eu, a nossa casa.
Às vezes e por instantes, solto do volante a mão direita e procuro-te no lugar fisicamente vazio. Pela força com que te quero e o pensamento te faz presente, até o meu corpo acredita que estás mesmo ali e que te pode tocar na seda perfeita que te envolve a pele.
A pele do toque que tatua em mim o maior e mais absoluto desejo.
Depois, sem se importar, a mão regressa ao volante e seguimos estrada fora.
Ela sabe que és meu e nunca tardas.
Seguimos…
Eu, tu, e uma tarde perfeita e de liberdade, mas debruada com as saudades de um beijo.
Freddie Mercury continua a cantar:
Every drop of rain that falls in Sahara Desert says it all. It's a miracle”.
A liberdade e a morte dos impossíveis na aparência de um milagre, mas sou apenas eu, tu… e a nossa casa.

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