CROÁCIA / MONTENEGRO / BÓSNIA DIA 4 Sibenik / Zadar "O vento"

Continuamos a subir ao longo da costa com o mar a manter-se fiel ao nosso olhar, do lado esquerdo do autocarro.

O Adriático, ou um corredor azul entre o continente e mais de um milhar de ilhas, a servir-nos de referência no caminho de Split até Sibenik.

Recordamo-nos da guerra que passou por aqui há tão pouco, e o zimbório da catedral ainda em reconstrução, aviva-nos definitivamente essa memória.

Um dia algures pelo Século XV, um arquitecto que construiu este templo, Giorgio de Sabenico, resolveu fazer a decoração exterior com uma frisa onde esculpiu os rostos dos seus conterrâneos; dizia ele que assim associava definitivamente os Homens ao divino.

O friso ainda se mantém e os rostos miram-nos lá do alto, a lembrar talvez que a fé,  em Deus e na própria vida, resiste a tudo e às vezes até à imbecilidade da guerra.

Continuamos a subir e paramos em Zadar, a terra onde o vento se sente intenso num abraço forte e contínuo.

É o vento que vem do interior, que ultrapassa as montanhas, a cidade, o mar, e que só pára numa ilha mais à frente: Pag.

Um vento que pela sua perseverança teve direito a um nome, chamam-lhe Tramontana.

E porque o vento passa pelo mar, diz a gente que arrasta com ele o sal até às plantas que as cabras comem, e que esse é o segredo por detrás do melhor queijo da Croácia e que da ilha tomou o nome.

Certo é que por ali por Zadar alguém se lembrou de construir um órgão à beira mar, e são as ondas que o vento desperta, o instrumentista e alma das músicas que ouvimos sentados enquanto olhamos o mar, a ilha em frente e o céu.

A meio da tarde, esta é a melodia que se regista por entre o vento e a fala da gente que passa ou que se senta nas teclas de pedra que as ondas beijam.

E agora permitam ao poeta um desabafo...

Ali sentado, estando eu envolto na paz que o teu amor arquitecta em mim, senti-me irmão das ondas do mar no canto que o vento lhes oferece; a paz do meu canto é a vida toda que me ofereces em cada beijo.

Um beijo com a duração de uma vida, a vida que sabe ao açúcar de ser feliz.







Comentários

Mensagens populares deste blogue

O MUNDO MAIS BONITO E CONFORTÁVEL NUM TEMPO A CHEIRAR A FLORES

“Quando mal, nunca pior” ou a inexplicável rendição à mediocridade

TESTAMENTO DE UM ANO COMUM