As flatulências e o Cozido à Portuguesa


Por vezes quando caminhamos pela simpatia e pelo afecto da gente das terras onde nascemos deparamo-nos com as excepções…
Ontem durante o meu passeio matinal cumprimentei uma senhora que estava encostada à esquina de uma rua, e que com toda a desfaçatez me disse que eu ia muito mal vestido, sobretudo tendo em conta o meu estatuto.
Fiquei sem saber que alto ou baixo estatuto esta senhora me reconhece, mas não fosse eu um homem com boa auto-estima e teria desde logo feito propósito de despir as minhas calças da Lewis, a camisola e o blusão da Gant, e até de descalçar os meus sapatos Camper, para envergar algo mais fantástico comprado por certo na mesma loja de chineses onde a criatura terá comprado aquela bata mal-amanhada que envergava e que lhe dava um ar de sopeira depois de esfregar a escada de três andares com sabão azul e branco.
Mas consegui sorrir da situação e segui…
Mais à frente outra criatura minha conhecida. Digo-lhe bom dia mas não responde.
É um problema de afinação.
Esta criatura fez um percurso entre Mao Tsé-Tung e Jesus Cristo com uma conversão súbita, não na Estrada de Damasco como São Paulo, mas algures na Estrada de Boliqueime durante os dias longos do Cavaquismo.
O tempo para estudar o catecismo não foi muito e o suficiente para aprender a responder às pessoas como por certo Cristo o faria. Até aposto que quando passeia capas douradas das confrarias católicas pelas ruas da Vila, a criatura o faz ainda como as tropas de Mao no esplendor de Tiananmen…
E sigo até à banca do jornal.
Estas foram as duas excepções no meio de tanta simpatia que me faz sentir em casa.
Diria pois que estas duas criaturas são uma espécie de efeitos adversos como os que apresentam os medicamentos: uma estará como o incómodo de estômago para os elevados benefícios da aspirina, a outra como as diarreias para a acção benéfica da Metformina sobre a diabetes.
Numa comparação mais gastronómica sempre posso dizer que estão as duas para o “calor” da minha terra, tal qual a flatulência está para o esplendor do Cozido à Portuguesa.
E assim como assim, e sabendo que não há bela sem senão, até ganho argumentos para escrever e rir… e seguem felizes os dias de descanso.

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