NATAL 2 / As férias


Sempre foram as minhas preferidas por serem de Natal, por nos proporcionarem tardes e serões de histórias ao redor do lume, e também porque os amigos se mantinham todos por Vila Viçosa, a nossa casa e a casa dos nossos Natais.
Depois, não faltavam actividades nas duas a três semanas de descanso que nos ofereciam após o primeiro período de aulas.
Na Livraria Escolar a azáfama era grande e superava a de todas as outras épocas do ano. Era lá que eu passava grande parte dos meus dias entre o aconselhar de livros, jogos, carrinhos miniatura ou qualquer outra coisa que pudesse funcionar como presente; e também a fazer os embrulhos.
Ainda hoje quando vou ao "ToysRus" consigo surpreender com a prática todos os outros clientes, a maioria sem jeito para embrulhar os brinquedos.
Dos livros que mais se vendiam recordo-me de "Os cinco", "Os sete", a colecção "Mistério", as "Quatro Torres" e "As gémeas"; havia a "Anita" para as raparigas e o "Tó" para os rapazes juntamente com a banda desenhada do "Asterix", do "Michel Vaillant" e do Lucky Luke.
Para adultos faziam sucesso os livros da "Colecção Dois Mundos" dos "Livros do Brasil" com os autores Pearl Buck ou Ernest Hemingway; também os livros policiais da Agatha Christie.
Para quem queria livros só para enfeitar a estante sempre havia a encadernação a vermelho das obras do Eça e a verde das do Fernando Namora.
Dos jogos da Majora recordo-me por exemplo do "Jogo da Glória", do "Mikado", do "Sabichão", do "Cluedo", do "Master Mind"...
Os dias eram tão atarefados que às vezes nem havia tempo para lanchar o habitual Bolo Finto comprado na padaria, acompanhado por um Sumol que eu ia comprar ao Café do Sr. Cândido, que ficava mesmo em frente.
Interessante era conhecer previamente os presentes que alguns colegas e amigos iriam ter ao chegar a meia-noite de Natal. Na casa dos meus amigos da família Duarte eu era cúmplice e todos no segredo a manter relativamente às surpresas.
Para além da Livraria, o nosso grupo de jovens tinha sempre a incumbência de ensaiar um teatro para apresentar nas festas. E se começámos por fazer sucesso com peças como "O discurso do Tonecas", acabámos já mais tarde a dramatizar poemas do Jorge de Sena.
O sucesso das peças era garantido pois o público, constituído essencialmente pelos nossos pais era fácil de conquistar. E até conseguiam dizer que eu tinha jeito para representar…
As notas relativas ao primeiro período chegavam quase sempre a casa na primeira semana e as minhas costumavam ser boas, o que não invalidava que eu não dispensasse também algum tempo para estudo e trabalhos naquelas alturas em que o presépio já estava feito e a minha mãe preparava os fritos do Natal "perfumando" a casa de uma forma que mais parecia a Barraca do Brilhol (farturas).
E para além de tudo isto havia ainda tempo para os amigos e para conversarmos das nossas coisas, há braseira que os dias iam frios.
As férias terminavam habitualmente depois do Dia de Reis e era comum apresentarmo-nos na escola com novas peças de roupa que tinham aparecido no sapatinho.
E íamos vaidosos, claro.

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