Os amigos ao jantar


Sopa de tomate com linguiça frita
Carne de porco
Açorda de marisco
Azeitona cordovil
Tinto Alentejano num jarro
A Tina que quer em garrafa… de marca
E quase se irrita

Chega a comida
Achamos sempre que é demasiado
Que há comida que nos aguente até ao entrudo…
Mas comemos tudo

Depois a conversa vai inevitavelmente para as desgraças…
O meio século
As hérnias
As cirurgias
As diarreias
As frieiras
As rugas
As dores de coluna
As azias
Os anti-inflamatórios
Reumatismo nas articulações da mão…
E urge uma piada porque isto está à beira da depressão

A Zinha dá uma das suas gargalhadas
Já tardava
E nem os temas
Sócrates
Maçonaria
Soares
Opus Dei
Nos privam de entrar na avaria

Eu digo que estamos todos melhor que o milho
Mas ninguém concorda e recebo apupos que quase dão sarilho

O Manuel declama o meu mais recente poema de amor
As confissões de um enamorado…
Mas lidas com a alma de quem lê uma lista de supermercado

Peço-lhe para pôr um tom sexy…
De matador
Mas não fosse a Zinha a lembrar-se de um poema que escreveu a um cipreste que ardeu há anos no Terreiro do Paço
E a Madalena a ter fotocópias da arte de Jorge de Sena
E o momento de poesia teria sido um fracasso
E seria uma pena

Passámos também pelos temas que nunca falham
As aulas no velho liceu
A “Morgadinha dos Canaviais”
Os teatros da catequese
Os signos
O equilíbrio dos Aquarianos
Um caranguejo fofinho que sou eu
As freiras
As maestrinas “epilépticas”
Os salmos entoadas pelo Manuel…

E muitas coisas mais

Depois a sobremesa
O café
Um presente que vem do ano passado e se pensa ser um presépio
E afinal até é

Beijos
Abraços
Mais umas conversas ao frio à porta do restaurante
As cumplicidades de sempre
As gargalhadas como dantes
E a promessa de voltar quando 2015 acabar

Os amigos e mais um jantar

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