Alentejo – Algumas dicas para o viajante

Num assomo de bom gosto que saúdo enormemente, muitos dos meus amigos resolveram rumar ao Alentejo durante as suas férias de verão, instalando-se na costa mas também no interior.
Assim, conhecedores que são da minha paixão pela terra onde tive o privilégio de nascer, foram muitos os que antes ou durante as suas incursões Alentejanas, me contactaram pelo telefone pedindo algumas dicas, conselhos e esclarecimentos.
Sendo sempre um prazer falar com todos eles e não pretendendo eu jamais eliminar os motivos e pretextos para me contactarem, antecipo-me e com base nos “registos” das chamadas que fui gravando na memória, pro-activamente aqui vai um micro glossário que poderá ser útil no que às questões gastronómicas e afins diz respeito:
Abalar – Ir embora
Alabaças / Catacuzes – Espécie de espinafres bravos
Almece – Soro branco que escorre do queijo e que se mistura com pedaços da coalhada e algum leite sendo então fervido
Ânsias – Vómitos
Aventar – Deitar fora
Bogango – Abóbora
Brinhol – Farturas
Broas – Biscoitos
Cabeça de Xara – Preparada a partir de uma cabeça de porco depois de salgada e cozida. É óptimo petisco e nada tem a ver com a negra perspectiva de nos vermos a comer a cabeça de um porco.
Capelinhas – Toucinho e chouriço fritos
Ensopado – Em geral de borrego. Um guisado com batatas e pão aos pedaços incorporados no caldo
Ervilhanas – Amendoins
Fintar – Levedar
Gaspacho – Sopa fria com tomate, alho, vinagre, pepino, orégãos, etc.
Lançar fora – Vomitar
Maravilhas – Outra espécie de farturas
Merendeira – Queijo de meia cura e de média dimensão
Migas – Alimento sólido feito com pão semelhante à açorda confeccionada noutras regiões do país
Miolos – Migalhas
“O restaurante é já ali” – Pode ser a 50 quilómetros…
Papa-ratos – A massa de fazer as farinheiras frita ao jeito de pataniscas.
Pezinhos de Coentrada – Pés em geral de porco que após uma longa cozedura e devidamente partidos são cozinhados com muitos coentros
Pingo – Gordura onde se fritou a carne
Poejo – Erva aromática que nasce em zonas húmidas e tem um gosto aparentado com a menta
Soltura – Diarreia
Sopas / Açorda – Um caldo específico contendo pedaços de pão em suspensão
Tibornas – O doce típico de Vila Viçosa, antiga receita do Convento da Esperança. Ovos, pão, amêndoa, uma hóstia, etc.
Uma das iguarias mais apreciadas é a Sopa de Cação. Recomendo-a vivamente e já agora aproveito para informar a quem interessar que o cação é um peixe pescado no mar, é aparentado com o tubarão e tornou-se popular no Alentejo por ser resistente às difíceis condições de transporte e também por ter um baixo preço.
Esta informação que pode parecer desprezível, não o foi para o meu amigo Pedro que vendo tantas vezes o nome do peixe nos menus, me questionou se o dito era pescado no Guadiana, no Sado ou em algum outro rio que passa pelo Alentejo.
E para verem como nós Alentejanos somos imbatíveis em imaginação, mesmo quando o cação não chegava, preparávamos as sopas sem o dito. O sabor não era igual mas aproximava-se. Chamávamos-lhe a Sopa Branca pelo facto de ao preparado de coentros, vinagre e água, se juntar sempre farinha.
Entretanto, divirtam-se, desfrutem, reguem as refeições com os vinhos do Alentejo, quase todos muito bons, e não se inibam de continuar a telefonar se disso sentirem necessidade.
Se as dúvidas persistirem e for necessária assistência in loco, contem com a minha disponibilidade.
Para terminar e como em tom dolente dizia a minha querida amiga Béquim ao apresentar o programa de culinária na Rádio Campanário no tempo em que ainda emitia da torre da Igreja de São Bartolomeu:
- Bom apetitiiiiii. 

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