O circo dos corruptos e a orfandade do eleitor

Sempre que um circo nos visitava em Vila Viçosa era possível que a mulher que se encarregava de nos vender as entradas na bilheteira, aparecesse mais tarde no espectáculo a protagonizar um número de contorcionismo ou de qualquer outra especialidade circense.
Recordei-me desta polivalência artística quando esta semana assisti aos episódios que conduziram à demissão do Secretário de Estado do Tesouro por alegadamente ter estado antes envolvido na tentativa de venda de um “produto financeiro tóxico” ao Estado Português.
A política é hoje efectivamente um circo alimentado pelos mesmos “artistas”, pessoas que oscilam entre o público e o privado ao ritmo da alternância no poder das forças políticas em que militam e que constituem o chamado “arco do poder”. Um circo em circuito fechado composto por gente em geral “sintetizada” nas incubadoras das juventudes partidárias, incompetentes travestidos de pessoas sérias, gente interessada apenas na defesa dos seus interesses de natureza económica mas que se apresentam com pele de defensores do interesse público.
Gente medíocre que não sabe fazer mais nada (nem nada mais rentável para tão parco esforço) e que viola leis para se manter na ribalta rodando entre os “números”, cadeiras (ou câmaras) disponíveis
Todos se conhecem por todos estarem envolvidos no mesmo triste espectáculo e nos mesmos números de “ilusão”, todos são corruptos, e de todos há sempre alguém que consegue enviar algo de menos bom para as redacções dos jornais no dia em que tomam posse dos seus cargos ministeriais ou afins.
E há as formações de esquerda que estão fora deste “arco”…
E estão de facto fora do circo mas as suas propostas desprovidas de bom senso e em geral irrealistas talham para si próprios uma dimensão cúmplice da ilusão mesmo que num contexto diferente, uma espécie de roulottes de vendas de farturas, pipocas ou algodão doce situadas algures na periferia da “tenda do poder”.
Estão fora mas fazem parte deste triste espectáculo.
Neste contexto, eu, contribuinte que contra a minha vontade patrocino de forma sustentada a manutenção deste “show”, eleitor que jamais se absteve numa eleição e que quase sempre fez centenas de quilómetros apenas e só para votar, muito em breve serei chamado a votar para as eleições autárquicas.
Tenho claro que não votarei mais em qualquer dos partidos que me aparecerão como opção no boletim de voto e não darei tão pouco o voto às pseudo agremiações de cidadãos que mais não são do que os reservatórios dos excluídos dos partidos, edições revistas e aumentadas da mesma incompetência e corrupção.
É necessário reduzir de forma drástica o número de votos com que esta gente se legitima no exercício da sua mediocridade, para além de que gente honesta jamais apoia gente mentirosa e corrupta, até pelo risco suplementar de vir a ganhar um rótulo negativo que não lhe assenta.
Mas também nunca me demitirei das minhas obrigações de cidadão. O meu país e o meu assumido nacionalismo assim o determinam.
Acredito em Portugal e com convicção alimento a esperança da implosão deste circo, a higienização das estruturas com a passagem compulsiva à tão bem tratada reforma dos agentes políticos que nos marcam o presente e a efectiva condenação de quem faz ou fez mau uso do dinheiro dos cidadãos.
Urge estabelecer um novo regime em Portugal, restaurar a esperança com base no rigor, na honestidade e na competência.
Há gente na Sociedade Civil que é capaz de protagonizar esta “revolução” e eu estarei disponível para sair com eles à rua na efectivação e na celebração da “morte dos palhaços” que fazem com que estes dias sejam maus demais para constar na história de uma nação tão nobre.

Comentários

  1. No tempo do sr. António os competentes políticos como tu não necessitavam de legitimação popular para aceder ao poder, percebo a tua vontade de um regresso a esse tempo....
    Meu caro terias toda a legitimidade se do alto da tua arrogância e imodéstia, pois para ti todos são corruptos menos tu e todos são incompetentes desde que se candidatem a algo, se te candidatasses. Só que não estou a ver como pois "bates" em todos, nenhum ter serve... a não ser claro se um António qualquer te levasse ao "colo".....
    Era melhor que pessoas competentes e honestas como tu, que nada fizeram gratuitamente, até hoje, em prol dos seus concidadãos, antes de escreverem estas barbaridades olhassem para homens como, por exemplo, o Sr. Artur Barreiros e outros, que sendo candidatos às autarquias locais, toda a vida e de"borla" fizeram muito pelos outros, durante mais de 20 anos pertenceu ao executivo da junta de freguesia de S. Bartolomeu e desde sempre é dirigente associativo.
    É destes homens a quem chamas corruptos e palhaços que as listas candidatas ás autarquias do nosso país estão cheias.
    Se quiseres publicar isto publica e diz que foi um palhaço de Vila Viçosa que escreveu.
    Boa tarde e vê se da próxima te levantas mais bem disposto.

    ResponderEliminar
  2. Em primeiro lugar muito obrigado pelo seu comentário que eu valorizaria mais se estivesse assinado.
    Colar as minhas posições a Salazar, ofende-me profundamente. Estou nos antípodas do ditador e continuo a acreditar na democracia embora os tempos mais recentes comprovem que é necessário repensar o regime em que vivemos e é legitimo exigirmos mais qualidade.
    As listas autárquicas estão cheias de pessoas que estimo mas os dirigentes políticos que se preparam para cantar vitória algures numa noite de Setembro precisam de entender que estamos cansados do que temos.
    Quanto ao meu pai e ao que aqui refere deixe que lhe diga que assumo a sua herança com orgulho, mas aqui nesta conversa sou eu e o senhor. Assuma a identidade e aí já poderemos discutir o que cada um já fez pelo seu país.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

O MUNDO MAIS BONITO E CONFORTÁVEL NUM TEMPO A CHEIRAR A FLORES

“Quando mal, nunca pior” ou a inexplicável rendição à mediocridade

TESTAMENTO DE UM ANO COMUM