Astúrias

As montanhas são mãos da terra erguidas ao céu, salmos de seiva e verde, hinos, o canto das horas, de todas as horas, num incessante preito de louvor a Deus.
E são perfeitas estas mãos, assim tocando e bebendo do infinito, osmose de paraíso numa bênção, a fertilidade, que é milagre de vida sentido em cada fruto, em cada pão.
Junto à raiz da montanha, há um rio que corre lento mas seguro, paralelo à estrada por onde eu sigo. Eu, por estes momentos, tornado assim secreto cúmplice do murmúrio que é mote de paz, soluçado rosário das águas cristalinas.
Lá longe, no pico que se debruça sobre o mar e onde aqui e ali se rasga uma clareira para que cresça o pasto que alimenta o rebanho, celta se faz o toque de uma gaita na herança de um pastor que céu e mar carrega no azul dos seus olhos… e a bravura no coração que domina a terra.
As mãos, essas, tatuadas a trabalho, entregam-se heróicas ao doce e perpétuo acariciar da fertilidade da terra.
Com cidra brindaremos de aqui a pouco, quando o sol se for para lá no horizonte deixando por sobre nós o brilho intenso de infinitas estrelas e nos encontrarmos no recanto de uma tasca que ilumina as casas que o campanário à volta de si semeou junto ao rio.
Casas simples mas todas coroadas pela madeira de um balcão debruado a rubras flores.
É a hora do amor na noite de todas as histórias, da magia, do paraíso, de tudo, dos abraços, das palavras que carregam a esperança, e para mim… de todas as lembranças de ti.
Um dia, contigo e pelo sonho, subirei por estas montanhas seguindo sempre o rasto celta do canto do pastor, galgando horizontes nesse voo de vida de quem foge para se poder encontrar a si mesmo, monges do amor na clausura do mundo que restitui a verdade à alma.
E mesmo que falhem as forças ou o alento para chegar ao pico que toca o céu, pouco me importarei, estás comigo, e o paraíso, irei “bebe-lo” algures, seja onde for, mas sempre na perfeição maior do teu olhar, também ele grande e celta como o do pastor.

Comentários

  1. Os abraços, as palavras e a magia são verdadeiras fontes de vida, nada como um olhar maior de alguem que se quer conhecer cada vez mais.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

O MUNDO MAIS BONITO E CONFORTÁVEL NUM TEMPO A CHEIRAR A FLORES

“Quando mal, nunca pior” ou a inexplicável rendição à mediocridade

TESTAMENTO DE UM ANO COMUM