A revolta dos joanetes


Chegou finalmente o verão, e por estes dias quentes e longos, a moda de 2015 não se fez esperar e chegou intensa, radiosa e... rasteira.
De um momento para o outro reparei que as minhas colegas que antes tinham crescido 10 a 15cm (na altura) se devolviam agora ao seu tamanho original; o de sempre, na ressurreição do ditado que as aproxima da sardinha e da petinga (“a mulher e a sardinha quer-se pequenina”).
Intrigado, fui à procura dos sapatos compensados ao estilo Drag Queen em noite de “Lugar às Novas” no Finalmente Club, e já não os encontrei.
No lugar destas plataformas andantes patrocinadoras do “doping da altura” que aproximou as Portuguesas às Suecas, encontrei umas rasteiras sandálias parecidas com as dos penitentes das procissões da Semana Santa de Sevilha, o que num grupo mais ou menos considerável de mulheres fica a parecer uma concentração de figurantes para uma reinvenção do Ben Hur.
Com saias compridas, também temos a sensação de que a Dulce Pontes sofreu um processo de multiplicação e está em todo o lado pronta a cantar descalça a “Canção do Mar”; ou então de que aquela boneca da Feira Popular que dizia “cinco tostões na mão da Dora que a Dora diz tudo”, se soltou por aí a ler as sinas à malta em ano de eleições.
De facto, foi o “25 de Abril” dos joanetes.
As mulheres Portuguesas fazem dos pés um compêndio aberto de ortopedia e revelam-nos a pujança dos artelhos, dos joanetes, das calosidades, dos dedos mais ou menos encavalitados… ou seja, de tudo aquilo que durante anos viveu nos seus “calcantes” mas de um modo abafado no silêncio discreto dos seus sapatos.
E algumas bem que poderiam continuar a mantê-los em silêncio…
Assim, ganham as pedicuras que têm mais dez unhas como aliadas para ganharem o pão, e ganham os joanetes que se libertam definitivamente de apertos.
Uma vitória dos ditos por goleada sobre nós e sobre o bom gosto numa revolta que em vez de cravos traz unhas (algumas com resquícios de onicomicoses), mas também em geral encarnadas, como manda a tradição.

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