Basta tão pouco para que sejamos resgatados da solidão pela força de invisíveis abraços


Da minha janela vejo uma grua gigante que assenta sobre um terreno de onde há semana retiram terra, uma grua que permite içar todos os pequenos e grandes detalhes daquilo que de aqui a alguns meses será uma enormíssima casa.
Sentimos o bulício, o ruido dos camiões, as vozes de comando e de quem obedece na hierarquia da obra que vista de aqui parece um caos, mas que afinal não o é; porque toda a gente sabe onde deve estar e faz o que é suposto fazer.
Na barra do café e no final de uma solarenga tarde de domingo buscam encosto os solitários, indivíduos perfilados de frente para um espelho já gasto pelo tempo, soldados na ordem unida do silêncio por entre apenas o tilintar das chávenas, o ruido intenso do moinho do café ou o soletrar acelerado do valor da conta a pagar por algum cliente.
Os Homens sós e anónimos parados no chafariz de onde bebem um conforto mais ou menos descafeinado.
Eu estou ao balcão por entre saudades tuas que me impelem a ler a última mensagem do telemóvel, antes de puxar da carteira e pagar a minha conta.
Amor…
Há palavras, pessoas, pensamentos, viagens, beijos… que tecem instantes que se constituem como degraus de uma longa escada que dá acesso ao melhor de nós.
Detalhes às vezes muito pequenos…
Retirada a terra de outras velhas construções, a grua iça-nos para a construção daquilo que será uma nova casa.
E saio do pelotão dos anónimos da tarde de domingo fazendo-me ao caminho a sorrir.
Basta tão pouco para que sejamos resgatados da solidão pela força de invisíveis abraços.

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