Uma manhã e tanta coisa entre mim e o sol


É sábado e eu saio de casa um pouco depois das nove da manhã.
Numa mesa da esplanada da pastelaria minha vizinha está um homem sentado sozinho, e com uma garrafa de cerveja entre ele e o sol que brilha com intensidade desde o seu espreguiçar ali para os lados do Cristo-rei.
Cruzamos os olhares e eu visto a minha assumida faceta rural quando lhe desejo um bom dia. Ele rompe também a regra do anonimato urbano de pessoas que fingem nem se ver, e retribui o cumprimento por entre dois goles da cerveja que em breve ajudará a apagar aquele tremor que oferece à garrafa um estranho movimento.
Talvez a voz deste homem esteja mais perto do Céu do que a minha e o seu desejo para mim se concretize muito mais facilmente do que o bom dia que lhe desejei…
Nesta manhã, há tanta coisa entre mim e o sol… muito mais do que apenas uma garrafa mini de cerveja.
Não tardarei a ter comigo um caderno Moliskine de capas vermelhas e folhas imaculadas que esperam pelas palavras que relatam olhares, passeios junto ao Tejo, beijos, sentires…
Não me consigo esquecer da festa do Luís quando ontem viu o bolo de aniversário “Trash Wheels” que o Rui lhe fez, e a forma como instintivamente cantou os parabéns para ele próprio.
Relembro a cara muito séria do João quando lhe entreguei a estampa de São João Baptista que me “saiu” como Santo Protector de 2015, e ele fez promessa solene de a guardar para que a nós os dois nada possa faltar durante o ano que agora começa.
Há tanto, mas tanto que levo comigo e não se vê.
No rádio do carro, a música soa não para preencher silêncios mas porque eu quero cantar com ela.
Sigo na rota do bom dia e sinto-me com infinita sorte.

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