Uma alma imensa guardada num castelo de querer de granito



Há almas imensas guardadas em corpos valentes de guerreiros como tesouros em castelos, os heróis completos que não assumem o impossível, aqueles que pela sua enorme fé e de encontro aos seus sonhos jamais soletram qualquer tempo do verbo desistir.
Reencontrámo-nos por um agradável acaso em Budapeste no verão de 1996, e a seu pedido tirámos uma foto na parte velha de Buda. Como sempre tratou-nos por “meus rapazes”, a mim e ao João Paulo, com toda a legitimidade de quem um dia nos ajudou a crescer.
O tempo passara desde os verões quentes dos anos setenta no Alentejo, o muro caíra, a cortina de ferro acabara rasgada, e estando ali os três ironicamente a leste, senti-lhe a voz mais calma do que antes no púlpito quando “gritava” as palavras escritas para a homilia com uma componente guerreira na forma de viver a fé “em tempos adversos”.
Com a perseverança de um fio de água que sabe ser capaz de derrotar até a pedra mais dura.
Ficou comigo esta imagem de guerreiro, simultaneamente com a expressão doce do olhar quando um dia me confidenciou:
- Não ganhas nada em falar de Cristo se não fores a cara Dele, e se não tiveres cara de ressuscitado.
Em Budapeste tinham passado já mais de duas décadas sobre estes dias de Vila Viçosa em que o Padre José Luís foi nosso pároco, e há muito que os três tínhamos deixado Vila Viçosa.
O Padre José Luís partiu para o Céu no passado dia 17 de Agosto.
Persiste em mim o seu abraço, o eco bom dos “meus rapazes”, e renovo o compromisso de ter cara de ressuscitado; por Cristo, pela minha fé, e agora também por ele, da forma de quem nunca deixamos morrer.

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